quinta-feira, abril 30, 2009

Margarida e o planeta longínquo

A Margarida sabe de um caminho que leva a um planeta secreto e longínquo. Um caminho de luas e de estrelas e de areias douradas. Um caminho de mar.

Nas noites quentes de luar, naquelas noites em que o silêncio da praia lhe permite ouvir a voz do coração, Margarida põe-se à escuta. E é nesses momentos que as palavras lhe chegam e lhe contam dos sonhos, da vida, do nascimento, da dor, do amor. As palavras contam-lhe dos livros e dos textos, das cantigas e dos poemas e de toda a felicidade contida nesse planeta longínquo.

Margarida, como uma aluna aplicada, pega na caneta e no seu caderninho de capa preta e escreve. Toma nota de tudo quanto ouve , colocando vírgulas nas pausas menores e pontos finais nas pausas maiores. Coloca sobretudo muitos pontos de exclamação e, para terminar, um enorme e bojudo ponto de interrogação.

Porquê ? - pergunta-se - Porque hei-de ser eu a detentora do segredo?

Mas a voz do coração não lhe responde. Obriga-a a respirar fundo e a meditar. Obriga-a a respirar ainda mais fundo e a encontrar as respostas dentro de ela própria, naquele recanto onde só a sabedoria impera, naquele recanto onde não há lugar para dúvidas nem para medos.

Margarida inspira e expira e faz muitas perguntas a si mesma.

Ela nunca me contou totalmente o seu segredo. Nunca me disse onde fica o planeta longínquo. Talvez seja apenas o produto da sua imaginação tão fértil. Ou não. Mas deixo-a pensar que tudo é real e espero que um dia ela encontre as respostas.

- Acreditas em vidas passadas ?
- As perguntas que tu me fazes, Margarida!
- É que, às vezes, tenho a impressão...

Às vezes, eu é que tenho a impressão de que a Margarida não me conta todos os seus segredos. Mas como? Se ela é a menina dos meus olhos e eu só quero que ela seja feliz?


domingo, abril 26, 2009

Margarida e o domingo




Li no jornal que hoje é domingo. Se vem no jornal, deve ser mesmo domingo. Ainda que não me tenha apercebido. Os dias são iguais. Tenho resmas de dias fotocopiados. Tenho arquivos de rotinas, sempre com os mesmos ficheiros , os mesmos documentos, os mesmos títulos. Viver é estar sempre a dizer, a fazer, a esperar o mesmo.

Mas hoje é domingo! Vem no jornal ! E eu deveria saber. Deveria vestir o vestido azul para ir almoçar junto do mar. Deveria ir ao concerto e sorrir. Deveria passear pelo jardim botânico e tirar fotografias às rosas em botão.

Amontoa-se o lixo do almoço no balde da cozinha. Há que fechar o saco e levá-lo para baixo. Daqui a pouco o jantar e a roupa e o pó e o silêncio da casa. O silêncio da casa.A roupa e o pó. E as costas que dóiem. E o silêncio. E é domingo. Li o jornal que hoje é domingo.

- Sabias que é domingo?, perguntou a Margarida.
- Domingo?
- Sim. Vem na primeira página do jornal.


quinta-feira, abril 16, 2009



Margarida e a Lua


- Estamos na fase de Lua Cheia.- disse a Margarida - Se pudesse, ia até á praia. Vestia aquele casaco de lã branca e quente. Sabes, aquele que eu chamo de casaco de pescador ? Sim. Vestia esse casaco, umas calças de veludo e umas botas. Talvez as castanhas de cano alto, que dão tão bom andar. E ia até à praia. Deve estar bonito o mar a esta hora. Uma manta de brocado com uma fita de prata. Não. Talvez a lua se pareça com uma bola de cristal. Bela e transparente!...
Não! Não me venhas de novo pedir juízo! Já estou a ver a tua cara. Estou cansada dos teus ares. Deixa-me sonhar. Quero sentir essa brisa no rosto. Quero os cabelos ao vento. E quero sal e salpicos ! Quero correr sozinha à beira-mar, cair no areal e rebolar como uma onda rebelde. E já te disse que não ! Pára de me proteger ! Desta vez vais deixar-me sonhar!

A Lua Cheia
iluminou as nuvens esta noite.
E o céu fez-se
manta de brocado.

Roubada ao Sol.
A Luz.
Furto cintilante.




Deixo sim. Eu deixo-a sonhar. A Margarida tem a Lua em Aquário. Leu isso há dias numa carta astral que lhe fizeram.



sexta-feira, abril 10, 2009


Margarida e a Verdade




- Sabes - perguntou-me a Margarida - se as verdades, que sabem a meu respeito, são aquelas que nunca revelei?

A Margarida tem destas coisas. Uma pessoa tão simples. Sim, porque a Margarida é de facto uma pessoa muito simples. E , de quando em vez, faz-me destas. Prega-me partidas. Faz-me perguntas, que me obrigam a pensar. Faz-me perguntas para as quais não tenho resposta.

-
Não sei, minha querida. Que sei eu da Verdade e da Mentira?

-
Pois é. - disse ela - Há mentiras tão bem maquilhadas, que mais parecem verdades sofisticadas.
Eu gosto da Verdade simples. Quem for meu amigo ou amiga a sério, há-de saber toda a minha Verdade. Será a sua alma a ler dentro do meu coração.

Menina doce dos meus olhos...

domingo, abril 05, 2009





- Apetece-me um passeio pelo campo - disse a Margarida, arrumando a
casa - estou a precisar de ar puro e de Sol!... E de verde!... De muito
verde...


No domingo, levo-a a apanhar flores campestres para enfeitar a sala. A Margarida é a menina dos meus olhos. Sei como ela gosta de flores.