quinta-feira, março 05, 2015

Nostalgia


Ao que tu chegaste, Margarida! Olhas-te no espelho e não te reconheces. Nos sulcos do teu rosto, pequenos riachos de águas salinas escorrem até às margens dos lábios ressequidos. É tão pouco aquilo que te faz sorrir! Talvez um pedaço de céu azul, um raio de Sol, os gritos das crianças que te chegam do jardim público.

Estás só, Margarida.Só numa casa que se foi esvaziando aos poucos.Cresceram uns e sairam. Partiram outros para um lugar melhor. E os que ficaram, Margarida... os que ficaram mergulham num silêncio que tu não entendes.

Ao que tu chegaste, Margarida! Lembras-te dos dias em que te nasciam marés vivas no olhar, tantas ondas de paixão e vastas planícies feitas de sonhos e de heras, de cavalos correndo livres na pradaria?

Assim foste, Margarida! Assim te conheci, mulher viva e inteira, árvore e seiva, potra e planície, terra e flor, estrela e brilho!

Vim hoje visitar-te e encontrei-te triste. Tão triste como as aves às quais cortaram as asas, os cães acorrentados a uma argola de ferro, as ruínas de uma casa que se cobriu de musgo.

-Em que estás a pensar, amiga?
- Nostalgia, Margarida. Quero-te de novo a sorrir. Só tu podes mudar o teu mundo e tenho a certeza de que és capaz de dar forma aos teus sonhos!

Sorriste um pouco, menina dos meus olhos. Talvez amanhã, ao voltar, te tenham crescido novas penas nas asas. Talvez amanhã recomeces a voar!