
A Margarida estava insegura e angustiada, naquela tarde. Nada parecia poder acalmá-la, nem sequer o chá de menta, que eu lhe preparara com carinho.
- Toma este cházinho, Margarida. Vai fazer-te bem.Tenta relaxar.
Mas ela não me ouvia. Dava ideia de que um poderoso vendaval se apoderara da sua mente, que um vulcão estava prestes a entrar em erupção dentro do seu corpo. O sangue pulsava-lhe nas artérias, de tal modo que eu conseguia ver cada estremecimento daquele peito agitado, adivinhar cada batida do seu coração.
-Há-de chegar! Há-de chegar!, murmurava a Margarida.
- Sim, Margarida...sei que esperas alguém... não queres dizer-me de quem se trata?
-Há-de chegar! Há-de chegar!
A sala estava envolta numa doce penumbra e a cortina filtrava um breve e fugidio raio de sol.
Duas cadeiras. Entre elas, uma mesa. Sobre a mesa, um ramo de rosas . E ainda uma taça de frutos vermelhos, uma garrafa de Porto. A Margarida esperava uma visita. Tinha tirado do louceiro os melhores copos de cristal, da arca do enxoval a mais bela toalha bordada e, por toda a casa, pairava um aroma exótico de incenso, laranja e canela.
Pasmei perante esta contradição entre o sentir da Margarida e a serenidade do espaço, que ela habitava. A Margarida esperava uma visita. Mas quem? Quem poderia perturbar assim a minha amiga, a menina dos meus olhos?
- Deixa-me só! Vai!
Voltei na manhã seguinte.Tudo estava na mesma. Os frutos vermelhos. A garrafa de Porto. A toalha bordada. Os copos de cristal. Apenas a luz era agora mais forte. O aroma menos intenso.
A um canto, dobrada sobre si mesma, Margarida chorava silenciosamente.
-Podia ter sido ontem, gemeu. Podia ter sido ontem...